Faz tempo… Ainda em São Paulo, muitos anos antes da minha Helena nascer.
Mas me lembro como se tivesse acontecido ontem.
Estávamos, a Maristela e eu, na cozinha. Eu preparava uns ovos cozidos para decorar a maionese, enquanto tagarelava com a amiga, que estava sentada em um dos tamboretes que havia ali.
Como sempre, estava frio, e as roupas no varal da área de serviço tapavam a pouca luz natural que poderia entrar pela porta aberta.
Estávamos animadas, discutindo filosofias, muito distraídas.
Depois que a água ferveu, esperei mais dez minutos – para ovos duros, como meu pai me ensinou – apaguei o fogo, joguei a água pelando na pia e abri a torneira para esfriar os ovos e eu poder descascá-los.
Conversa que vai e vem, descasquei o primeiro e o segundo ovos e já descascava o terceiro quando estranhei a consistência e as cores.
-O que é isso? – perguntei abobada.
Maristela respondeu pragmática:
– Um pinto!
Em um átimo joguei longe a gororoba, estressadíssima.
Maristela me fez o favor de catar e jogar no lixo, enquanto eu sofria com horror.
Hoje imagino que eventualmente algum chef possa desenvolver a iguaria: Poussin en sarcofage.
Naqueles velhos tempos não havia ainda a ANVISA. Ninguém seria responsabilizado pelo susto que tomei.
E talvez venha daí a minha intolerância aos ovos.
Bom, pelo menos não estava dentro de uma garrafa de coca-cola, o que estragaria definitivamente o meu prazer pelo refrigerante!